quarta-feira, 23 de março de 2016

Comum a Todos os Homens

Tudo que você ama um dia o deixará.
o que ficar, o irá destruir.
Dito isso, resta o silêncio.
Aquele que odeias com todas as forças,
que, como um demônio insone,
Não o deixa pregar os olhos na noite.
E, se agarras, com unhas e dentes,
a vista d'uma janela de apartamento
Para convencer-te de que há, ainda, algo de belo
Nas noites em que é possível ver a lua,
Talvez veja, esta mesma janela,
Teu corpo ser lançado, aflito e desesperançoso
No abismo comum a todos os homens.
Pois todo ser na Terra quis, por uma noite,
ter surdos os ouvidos para os nomes de seus amores,
E cada coração despedaçado
Ansiou triste o abraço e o calor de alguém que fosse
Mesmo que por piedade ou tédio.
Tu, que busca num copo de conhaque
As mãos afáveis de uma mãe
Encontrará, assustado, as sombras macabras dos chicotes de teu pai.
E tu, que gritas no escuro,
Fera aleijada pelo descaso, cheia de vazio e angústia,
Terá cem dedos e, ainda assim, há de perder a conta dos fracassos.
Pois teu Deus não é Pai, nem filho,
Teu Deus é carne, osso e fumaça
E se a ele és Fiel, como uma esposa estuprada
Calada e repreendida incontáveis vezes,
Ele, como tudo que um dia amaste,
O deixará, enquanto dormes.

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