sexta-feira, 7 de março de 2014

Sob os Cobertores da Solidão

"Hoje deveria ser um bom dia" -
Disse a garota, aos prantos, em frente ao espelho,
Seu cabelo desarrumado, o tempo úmido..
Divertia-se como quem não se importa em deixar cair açúcar no chão,
E agora as baratas chegavam, ao apagar das luzes.
Os sonhos vivem ontem. Hoje é tempo de neblina.
Seu pai, sempre com seu péssimo hálito,
Incapaz de espantar as moscas, ainda assim,
Cambaleando pelo alcoolismo, gritava pela casa.
À ruína dos dias, porcos brindavam.
Como irritavam seus dentes de ouro ao cair nas frestas do assoalho!
Quão nojentos eram ao arrotar seus egos inflados!
A garota chorava sozinha.
Os espelhos turvos em que se observava,
Citavam mil garotas mais belas, em lista,
E ela via-se incapaz de encontrar sua capa de invisibilidade
Em meio a toda bagunça do quarto.
Caminhou até um velho colar que sua mãe havia lhe deixado,
Ao abrir a gaveta, todos os cupins correram por abrigo.
- "Mamãe, eu perdi tudo, não foi mesmo?
Cortaram minhas asas de fada, de anjo,
Emudeceram minhas conversas com as bonecas
E as despejaram de suas casas, não foi?
Submergir em suas águas já não me afaga, mamãe,
Volta pra casa!
Nem as cobertas me protegem na noite..
Quero fugir, me esconder em teus braços quentes,
Volta logo.."
No quarto, apenas as asas das baratas soavam..
Adormeceu sozinha, de novo.
"Amanhã há de ser um dia melhor"

Nenhum comentário:

Postar um comentário