segunda-feira, 23 de dezembro de 2013

Teu

Você não me ligou aquela noite.
Na calada soavam as lâmpadas queimadas..
Agora sem luz, clamavam por atenção;
Soavam como os insetos cegos que as rondavam,
Sem saber que estavam mortas.
Como insultos. Insultos frios.
Há relatos de que, na mesma noite,
Outros mortos, em outros apartamentos, empoeirados,
Queixavam-se por ter ido cedo demais;
Delatavam mamíferos empalhados por não viver,
Por não merecer permanecer intactos.
Apenas boatos, pensei comigo,
Anunciados pelas ruas por gente escandalosa e que fala demais.
Falam demais e alto demais, e me incomodam com assuntos vãos.
Vi em tuas pálpebras uma forma de te mostrar
A escuridão que a faria abrir os olhos, mas, covarde, desisti.
Seguiam-se as horas e eu suava cada vez mais frio.
Veio em minha mente a ideia de lhe escrever alguns versos,
Algo que chamaria tua atenção,
Que a fizesse, enfim, tirar as cordas de meu pescoço:
"Teu será meu suor quando secar,
E até os dentes pelos quais irão me reconhecer.
Teus serão os medos e as sombras,
Tuas as confissões e promessas.
Só com teus pés caminharei.
E por fim, quando tudo vier abaixo,
E todas as chances se cansarem de mim e meu desânimo:
Tuas serão as noites que eu desperdiçar,
Esperando.. Em vão.."

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