sábado, 29 de junho de 2013

Prosopagnosia

Máquinas rasgam o asfalto lá fora;
Aqui dentro, os gatos se ouriçam,
Cospem as asas de pássaros semi-vivos,
Arrancam-lhes o coração, sem matar,
E trazem-nos, com olhos de piedade.
Entre pesadelos de sexo nojento com garotas solitárias,
Deitamos de bruços, para ser estuprados.
Jamais tocarei seus rostos..
Estas garotas jovens e sozinhas,
Todas elas, oniscientes afrodites,
Se enforcam entre promessas e fios telefônicos,
Pelos quais suas mães mortas se comunicam;
- Com ódio, fofocas mesquinhas e aquelas velhas mentiras
Próprias de pessoas vivas.
Ah! Os cadáveres sem ossos!
Que ânsia, soprá-los contra os lagos insondáveis do esquecimento!
Como um rato sem olhos, esfaqueá-los sem me aproximar..
Sorrateiro, contorcer suas peles nuas,
Conhecer o sangue que emana de suas costelas.
Mas nem ao menos poderia dizer quem são!
Jamais saberia reconhecer seus rostos,
Suas faces, devastadoras de tão belas.
Então as deixaria sofrer, neste deserto
De carros infinitos rasgando o asfalto,
Porque foi assim que me abandonaram:
Inalcançáveis, Vomitaram um paraíso de belos seios,
Mas de chagas gigantescas.. Incuráveis..

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