segunda-feira, 25 de fevereiro de 2013

Inaudível

Não me movo.
Arregalados os olhos, correm o mármore frio que me envolve.
Há muito; não me movo.
O sangue mancha dos ouvidos aos ombros;
Queima a pele, de dentro pra fora,
As canelas, inundadas pela fraqueza
Que minhas veias distribuem pelos órgãos
Praguejam, tremem e ameaçam ceder.
A dor se guarda em ouvidos surdos.
Nenhum ruído soa em meu quarto.
O diabo é visita em meio à noite.
Pisa em meus pés e me arranca as cobertas,
Deixa um sono leve na madrugada aflita,
Imerso na paranoia de que os olhos se abram
Para ter suas pupilas rasgadas pela penumbra.
A alma é resto, no calor do seio que me ludibria,
Clama;
Eu, inaudível em teu útero;
Eu, intocável em tua noite;
Clamo, grito, me debato e desisto:
Do pó ao pó ao pó ao pó ao pó de teu descaso.
A alma é resto, o que me foi arrancado
Em noites em que suava a ausência de tua calma.
O corpo, um cadáver,
Na treva rancorosa de sua madrugada,
Não se ouve, Não se move.


"Nunca conheci quem tivesse levado porrada
Todos os meus conhecidos têm sido campeões em tudo.
Eu, tantas vezes reles,
Tantas vezes porco,
Tantas vezes vil.
Eu, tantas vezes Irrespondivelmente parasita,
Indesculpavelmente sujo,
Eu,
Que tantas vezes não tenho tido paciência pra tomar banho,
Eu que tantas vezes tenho sido ridículo, absurdo.
Que tenho enrolado os pés publicamente nos tapetes das etiquetas
Que tenho sido grotesco, mesquinho, submisso e arrogante."

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