terça-feira, 7 de fevereiro de 2012

Crível

Não é sobre chorar sobre o leite derramado.
Não é sobre amar ou sobre não ser amado.
Mesmo que chovam os lírios
Sobre as mesas dos ricos de espírito,
Rasgarei minha pele, atearei fogo
Deitarei sobre o vidro implorando socorro.
Chorei ao fugir de tenebroso claustro
Chorei ao correr e ter o corpo exausto,
Vejo-me ao espelho repleto de dores críveis,
Abominam-me monstros extremamente plausíveis.
Traço, tez e corpo esguio,
Algemo-me a beira do rio,
Espero desfigurar-me pelos reflexos infindos
Perder-me nas luzes que à noite banham,
Sou devorado por peixes famintos
Arrepios e medo agora me ganham.
Flutuo leve pelas pequenas ondas,
Torno-me filho da noite e das sombras.
Mato no ninho qualquer emoção
Dilacero o desejo e me afogo, então.
Como pode a ausência machucar tanto?
Arrancar o rosto e arranhar o peito
Sem deixar marca, sem excitar, no entanto,
Fazer da felicidade um crivo tão estreito?
Não tens ideia do quanto é insuportável,
Ter em mãos um feto de placenta umedecido,
Em corpo e alma, totalmente inamável
De coração, de mãos e de pés desprovido...
Não é sobre nenhuma dessas dores,
Sobre contar tristezas e desamores;
Sobre não saber como existir;
Sentir sua vida, aos poucos exaurir..
Sobre não possuir nada além do vazio
Abraçar a si mesmo e sentir-se frio.
É sobre estar sentado, totalmente absorto
Ter a alma em prantos e o espírito morto.

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