sexta-feira, 19 de agosto de 2011

Cansado / Multidões



Afogando-me em tristezas
Ou cospindo sangue pelo nariz
Encaro o espelho.
Podre por dentro,
'coração envenenado'
Me perco em um quarto escuro.
Abusando daqueles destinos,
Pegando-os todos e contorcendo
Transformando em uma arte mal-feita
Ou em uma imagem abstrata;
Este sou eu fazendo algo de útil da dor.
Minha face não tem vida.
Deito-me em minha cama fria,
Aqueles cobertores não esquentam mais
Meu corpo tão sem preenchimento,
Aqueles lençóis agora fedendo à suor noturno
Já não acomodam mais minha cabeça,
Nem a matéria que sou, ante toda essa incerteza.
Quando judas me pegou pelo braço
Pra me levar pro topo da montanha,
Pra me mostrar o mundo que lá em baixo se decompunha;
Eu urinei em meu corpo,
Me cagando para suas escrituras tão infantis,
E suas profecias fúteis.
Mas, quando olhei novamente para aqueles edifícios,
Meu corpo caiu, se debatendo bruscamente pelo calvário, até me recordar
De todas as cruzes que carreguei por culpa do vazio.
E de todas as mentiras que não contei para Jesus
Por não reconhecer sua face embaçada em meio às multidões,
A pior foi dizer que está tudo bem comigo,
Porque nunca esteve.
E bem no fundo dos meus olhos,
Tudo que sinto é pena de mim mesmo, por nunca ter tido
Chance de dizer para Ele o quanto me odeio;
Chance de dizer para mim uma vez que algo vai dar certo,
Porque os sonhos nunca se realizam no final.
Rasgo as vestes, tão traidor,
E me desprezo, porque não mereço nem seu cuspe em meus olhos;
Então deito meu corpo sobre a cruz,
E espero que venham os soldados
E o Pecado me tome por completo..
Estarei aqui, para roubarem de mim tudo o que tenho,
E então vou embora...

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