quarta-feira, 6 de julho de 2011

Os Porcos

Difícil
Se ver diariamente em meio aos porcos
Rastejando pela lama, em busca de algo;
Algo que tenha valor, neste lamaçal.
Tentar se enturmar, se sentir bem,
Pertencer.
Olhar sua face no espelho
E por um dia - Só por um maldito dia -
Tentar sorrir por não estar morto.
Mas não... Quem dera estivesse!
Difícil.
Os dias se arrastam como serpentes maliciosas;
Com sua dança repetitiva, ludibriam a realidade
E os sonhos, um por um, se exitinguem.
Através do tempo, fracasso incessantemente.
Caio à todo instante, de joelhos
No pó dos ossos de meus ancestrais
Tão mortos quanto aqueles sonhos de minha infância.
Me vejo orfão de minha própria existência;
Estou perdido mais uma vez na trilha...
Trêmulo, em desespero, sem ter para onde correr
Procuro, em agonia, uma saída.
Procuro me levantar do quão mesquinho é
Coexistir com o mais puro e malcheiroso esterco.
Já não me encaixo mais nesta vida;
Na vida que meus ancestrais levaram.
Desejo fugir.
Rasgar este horrível figurino de porco
Em que me vejo envolto.
Desejo fugir.
Com todas as minhas forças, correr.
Mas olho para mim com desprezo
Quando vejo que vou ser sempre este maldito porco.
Arranho os punhos, mordo os lábios, até sangrar
Torcendo para que Deus rasgue os céus
Acabando com tudo. Acabando com essa dor.
Difícil, quando se é um porco, acreditar em Deus.
Difícil.

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